INFORMATIVO

20/07/2023 Desconfie de (algumas) promessas de rejuvenescimento íntimo

Remodelação vaginal é indicada para mulheres que sofrem com sintomas da menopausa

Embelezamento íntimo, correção estética genital, cirurgia estética ginecológica, rejuvenescimento íntimo. São vários os nomes utilizados para procedimentos que prometem uma genitália mais jovem e, a reboque, uma vida sexual prazerosa. A questão é que, enquanto há intervenções que são indicadas para problemas que ocorrem a partir da perimenopausa, isto é, nos anos que antecedem o fim da menstruação, outras podem ser consideradas simplesmente propaganda enganosa, como alerta a Febrasgo (Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia).

Para esclarecer o assunto, conversei com a médica Neila Maria de Góis Speck, professora adjunta da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e presidente da comissão de trato genital inferior da Febrasgo, que detalhou a condição para a qual há uma indicação precisa de intervenção: “isso ocorre quando a mulher sofre de síndrome geniturinária, que abrange a atrofia vaginal, com sintomas como secura, coceira, desconforto ou dor durante o sexo, e também problemas urinários, como ardência e/ou urgência para urinar, leve incontinência urinária ou noctúria, que é a necessidade de fazer xixi várias vezes durante a noite”.

A médica Neila Maria de Góis Speck, professora adjunta da Unifesp e presidente da comissão de trato genital inferior da Febrasgo  — Foto: Acervo pessoal

A médica Neila Maria de Góis Speck, professora adjunta da Unifesp e presidente da comissão de trato genital inferior da Febrasgo — Foto: Acervo pessoal

Nesses casos, o rejuvenescimento íntimo, que a médica prefere chamar de remodelação, pode melhorar bastante a qualidade de vida da mulher. O procedimento é feito com laser fracionado, onde uma espécie de sonda, ou probe, é introduzida na vagina e pontos de laser são aplicados sobre a mucosa. Eles promovem a renovação do colágeno, aumentam a vascularização e a lubrificação. As aplicações são feitas em três sessões, uma a cada 30 dias, e o efeito dura, em média, de 12 a 18 meses. Para a manutenção, é necessária uma sessão extra. “A aplicação pode incluir a vulva, que é a parte externa do aparelho reprodutor feminino, e cujo tecido também afina com a idade. Muitas mulheres sofrem fissuras da pele da vulva durante o sexo e o laser melhora sua textura. O princípio é o de energizar o colágeno, que vai tornar a pele mais firme”, explica, acrescentando que, para pacientes que se submeteram a tratamentos oncológicos e tiveram uma menopausa precoce, o recurso pode significar a retomada de uma vida sexual satisfatória.

O laser já era utilizado há décadas na Europa em lesões pré-malignas e a própria doutora Neila Speck, uma referência em patologias do trato genital inferior, especializou-se nessa técnica em San Marino, micronação encravada na Itália. Além do laser, são utilizados o ultrassom microfocado e a radiofrequência – ainda há poucos estudos comparativos que estabeleçam qual é o mais eficiente. Uma questão sensível diz respeito ao profissional que deveria conduzir esse tratamento que, hoje em dia, é realizado em larga escala por dermatologistas. “Médicos de outras especialidades podem não reconhecer afecções na região genital. Na Itália, somente ginecologistas podem adquirir as ponteiras do laser para esse tipo de procedimento”, afirma a professora.

Agora que já falamos das indicações precisas, vamos aos modismos que, além de não terem comprovação científica, podem até causar danos à saúde da mulher. Como eu disse no começo da coluna, a remodelação vaginal é aconselhada quando há sintomas que surgem na fase que antecede a menopausa, e não para pacientes jovens. “Recomendar o procedimento de forma preventiva para mulheres de 30, 35 anos, alegando que o processo de perda de colágeno já está em curso, é uma falácia”, critica a doutora, com veemência.

Há um leque de intervenções que, na sua opinião, são eticamente questionáveis, como o clareamento da vulva e o preenchimento dos pequenos e grandes lábios com substâncias como ácido hialurônico. No processo do climatério, os pequenos lábios podem sofrer uma certa atrofia e, os grandes, perdem gordura, mas essas alterações não afetam a qualidade do sexo. Por último, entre os serviços de estética íntima oferecidos, há o da ninfoplastia, que é a redução dos pequenos lábios, com a “justificativa” de que a cirurgia torna a aparência da vulva mais jovem, atraente e desejável – e o principal alvo acaba sendo quem está com a autoestima em baixa. “Há uma grande diversidade de vulvas e nenhuma mulher deveria se sentir pressionada a buscar um discutível padrão de beleza para sua genitália. Além disso, há uma indicação específica para a cirurgia dos pequenos lábios, quando eles apresentam uma hipertrofia e causam desconforto. Estamos assistindo a um excesso de modismos e um deles é o de mulheres querendo uma vulva de Barbie, quase infantil”, lamenta a médica.

Fonte: https://g1.globo.com/bemestar/blog/longevidade-modo-de-usar/post/2021/07/11/desconfie-de-algumas-promessas-de-rejuvenescimento-intimo.ghtml

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